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110 anos de Ignacio

Atualizado: 11 de fev.

Ignacio de Mourão Rangel teria completado ontem (20) seus 110 anos de vida. Mas, suas ideias permanecem.


Maranhense de Mirador, município hoje com pouco mais de 20 mil habitantes, Rangel percorreu, com suas ideias, espaços que, conjugados, seriam incomuns para o mesmo cidadão. Militou com arma na mão, participou do partidão, andou pelos corredores do poder, foi ouvido por presidentes da República, produziu análises técnicas em banco de desenvolvimento por décadas, ajudou a editar leis importantes que formaram as empresas que foram base do forte processo de desenvolvimento nacional, escreveu em colunas das grandes gazetas, deixou obras importantes com suas análises empíricas sobre a realidade nacional e, ao mesmo tempo, teve a façanha de criar uma categoria própria de pensamento econômico que não se enquadra entre os chamados ortodoxos e heterodoxos, tampouco na dicotomia estruturalista e monetarista, e também desconsidera a macro e a microeconomia, que ele nunca mencionou como base de suas análises. Debater com a Cepal, onde se especializou, lhe custou a ausência de seus estudos nos arquivos dessa comissão econômica. Seu nacionalismo era empírico, livre de dogmas e paradigmas, mas extremamente anti-imperialista, como enfatiza Armen Mamigonian, seu discípulo mais fiel. Negou cargos no alto escalão de governos porque sabia dos limites e caminhos necessários para a revolução na periferia.


Para compreender o processo de transição dos modelos de produção no Brasil, Rangel deixou como legado a teoria da dualidade básica, que o levou da formação em direito, como filho de juiz, a ocupar as cadeiras de economia do Rio de Janeiro. Identificou como ninguém o caráter da Via Prussiana brasileira, uma teoria leninista, e utilizou o conceito de formação social e totalidade de Karl Marx, sem destacar como bandeira ideológica esses importantes autores. Rangel aprendeu a caminhar na colônia e entendia que a dinâmica interna nacional reagiu à Portugal e à Inglaterra, mas enfrentava desafios para lidar com os Estados Unidos, o que explica os golpes de 1964, de 2016 e a tentativa, frustrada, de 2023.


Distanciou-se do “diálogo comum” da esquerda ao interpretar a realidade. Entre seus principais posicionamentos, que o levaram a julgamentos indevidos a partir de núcleos progressistas, destacam-se: a incapacidade de realizar uma reforma agrária, pois ela contrariaria o monopólio da terra no período de forte industrialização derivada de pactos de poder; a visão da inflação como um mecanismo de defesa diante da crise, associada ao oligopólio da agroindústria e ao problema de demanda, e, como consequência, à taxa de exploração sobre os trabalhadores, diretamente relacionada à estrutura desigual do país, com a renda e a demanda revelando uma proporcionalidade direta; e a bandeira pela transferência da exploração de serviços públicos para o capital privado interno, diante da “falência” do Estado, ignorando o debate inócuo entre estatistas e privatistas.


Mas quem sou eu para falar de Rangel? Em breve, escritos de Armen Mamigonian irão contemplar um livro da UFSC sobre os intérpretes brasileiros, abordando as diversas visões econômicas da realidade nacional. Nele será detalhado o motivo pelo qual Rangel é considerado o “mais criativo e original analista do desenvolvimento econômico brasileiro”, título do capítulo, que enfatiza a importância de suas ideias vivas, perigosas, conforme cita o Professor Armen (Mamigonian, 2019), justamente por serem “avançadas, anti-imperialistas, mais socialistas, mais nacionalistas”. Rangel sabia como o Brasil cresceu de 1930 a 1980 e previu a crise posterior a esse período, tendo em sua mente os antídotos para a longa recessão (1973-2023), ao não negar a teoria dos ciclos e perceber os diversos limites inerentes ao capitalismo.


Sua grandeza é enfatizada quando Luiz Carlos Bresser-Pereira e Maria Conceição Tavares, em 2014, na homenagem ao centenário de Rangel, evento organizado pelo Centro Celso Furtado e coordenado por Roberto Saturnino Braga, afirmaram a complexidade de compreender o pensamento desse bolchevique, que possui uma teoria econômica singular sobre o Brasil, em sua destacada “solidão intelectual”.

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